quarta-feira, 20 de julho de 2011

As 'viúvas' de Pagot

Quarta-feira, 20 de Julho de 2011 - 10:31:19 - Autor: ANTONIO DE SOUZA
É lamentável que Mato Grosso tenha sido foco do noticiário político (poderia ser policial) nacional, nas últimas duas semanas, por conta das denúncias da revista Veja, de que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), sob o comando do republicano Luiz Antonio Pagot, é um antro de corrupção, instalado no Ministério dos Transportes, um dos órgãos estratégicos do Governo Dilma Rousseff.
O Estado, infelizmente, ganhou notoriedade como uma espécie de "paraíso dos escândalos". Quando não é palco de maracutaias, fornece os protagonistas.
Um dos personagens principais do episódio, Luiz Antonio Pagot conseguiu a façanha de colocar Mato Grosso no centro de um escândalo de proporções alarmantes. Como tem sido amplamente divulgado, ele se esforça para tentar reverter uma situação que, fatalmente, não deve poupá-lo da limpeza ética que a presidente da República se propõe a fazer nos Transportes.
Os danos à imagem do próprio executivo indicado pelo PR para comandar um orçamento de R$ 18 bilhões - maior do que o montante estimado para Mato Grosso, neste ano -, dadas as proporções que o escândalo adquiriu, são irreversíveis.
Sua situação no contexto do Governo Federal se tornou insustentável, o que levou a própria Dilma a avisar sua base aliada no Congresso Nacional que Pagot será mandado para casa, tão logo terminem suas férias.
A iminente demissão do republicano, curiosamente, expõe um jogo de interesses no contexto político-partidário. Por razões óbvias, o senador Blairo Maggi (PR) disse que seu afilhado é injustiçado e até insinuou que ele não mereceria a humilhação de uma demissão a bem do serviço público. E, para não fugir à regra, sugeriu a clássica solução para os políticos flagrados em maracutaias - a "saída honrosa", seja lá o que isso signifique para quem anda pela hora da degola inexorável.
O senador Jayme Campos (DEM), no melhor estilo dos tucanos do PSDB, optou por ficar em cima do muro. Na verdade, nem subiu, na medida em que se omitiu de questionar Pagot, durante seu depoimento no Senado, na semana passada. Saiu de fininho, como se nada daquilo fosse com ele. Com negócios no Governo do Estado, por meio do DEM, que tem cargos no Palácio Paiaguás, o ex-governador, certamente, não quis melindrar um aliado de primeira hora, o PR, que tem cota na atual gestão do PMDB.
Pedro Taques (PDT) frustrou as expectativas de quem esperava dele uma posição firme, como legítimo representante da oposição. O senador andou bem distante do candidato que, em 2010, inflamou a campanha eleitoral, ao se apresentar aos olhos dos eleitores como paladino da moralidade. Prometeu que, se fosse conduzido ao Senado, iria lutar pela decência e pelo combate à corrupção. Ante Pagot, no próprio Senado, comportou-se como um aliado de primeira hora. Nem parecia aquele ex-procurador que, nos palanques e nos espaços gratuitos no rádio e na TV, em rompantes, garantia que, eleito, iria "mudar a cara" do Senado. Pois é...
Dos inquilinos do Congresso Nacional, a bem da verdade, poderia mesmo se esperar esse tipo de comportamento. O estranho é constatar que, na Imprensa em Mato Grosso, Pagot ganhou uma infinidade de defensores. São os notórios fornecedores de opinião, que, numa profusão de artigos em sites e jornais, diariamente, lamentaram (e ainda lamentam) o desfecho da crise nos Transportes e, mais ainda, o "inferno" do diretor-geral afastado do DNIT.
Com efeito, nem advogados de defesa fariam melhor, ao tentar vender a imagem de Pagot como a de um "santo" ou transformar o episódio numa tragédia. Talvez pior do que a subserviência manifesta de determinados jornalistas ao ex-homem-forte do DNIT seja a omissão de alguns veículos de Comunicação de Cuiabá.
Alguns sites, blogs, jornais e até emissoras de TV se esforçaram ao máximo na tentativa de camuflar uma triste realidade, no contexto do escândalo que enlameou o Ministério do Transportes e respingou na presidente Dilma Rousseff.
A trajetória pública de Luiz Antonio Pagot, a propósito, é inusitada, conforme relata a Folha de S. Paulo, em um perfil publicado no domingo (17): a de um homem habituado a reviravoltas, sempre em estreita sintonia com a família Maggi. No Governo do padrinho político, Blairo Maggi, quando passou por três pastas (Transportes, Casa Civil e Educação), o executivo sempre buscou se impor.
"Frequentemente descrito como mero ajudante de ordens de Blairo, Pagot é apontado por inimigos e aliados próximos como figura muito mais complexa do que aparenta, de personalidade forte e com ascendência sobre o padrinho político", disse o jornal. Faz sentido, considerando que, em todas essas ocasiões, ele sempre se sobressaiu como o todo-poderoso, a eminência parda da gestão republicana.
Os generosos espaços que Pagot ganhou em grande parte da mídia mato-grossense são um indicativo de seu, digamos, poder de convencimento. Quase nunca esteve à disposição quando se tratava de alguma denúncia envolvendo o DNIT, mas sempre se revelou obsequioso quando era para ocupar espaços de acordo com suas conveniências, os seus caprichos pessoais. Para ser bajulado, melhor dizendo.
Sem uma assessoria competente, Pagot se habituou ao puxa-saquismo dos já notórios fornecedores de opinião e de empresários inescrupulosos que habitam a mídia. Sua demissão, convenhamos, deixa muitos "viúvos" (ou "viúvas") na Imprensa de Mato Grosso.
No contexto de parte considerável da mídia regional, infelizmente, a conclusão imperativa é de que há, sim, uma subserviência assumida, sem nenhum resquício de pudor.
ANTONIO DE SOUZA é editor do site MidiaNews.
asouza4040@gmail.com

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