quinta-feira, 28 de junho de 2012

Índios acusam dissidentes de terem sido ‘comprados’


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Grupo que se diz contrário à demarcação de área está participando de protesto organizado pelos posseiros


A situação é tão complicada que até mesmo os índios divergem, inclusive com acusações
LAURA NABUCO
Da Reportagem

Xavantes da reserva Marãiwatsede acusam os dissidentes da mesma etnia de terem aceitado dinheiro de posseiros para participar do protesto contra a demarcação da reserva indígena na região da gleba Suiá Missú, nas proximidades de Alto Boa Vista (1.064 km de Cuiabá). 

Segundo Cosme Paradzané, filho do cacique Damião Paradzané, os cerca de 130 índios que se aliaram aos posseiros que interditaram a BR-158 são de outras regiões do Estado. “Eles foram comprados pelos fazendeiros que querem que a gente brigue para atrapalhar o processo. Fazer pensar que os xavantes não estão unidos”, afirma. 

Paradzané ainda desmentiu os boatos de que a aldeia estaria se preparando para entrar em conflito com os manifestantes aglomerados no Posto da Mata, localidade entre a área de litígio e Alto Boa Vista. 

Eles aguardam uma resposta da Funai e da Polícia Federal para o agendamento de uma reunião em que serão debatidas possíveis soluções pacíficas para a questão. “Só queremos é que eles saiam de lá”, diz. 

Paradzané afirma que atualmente cerca de 800 índios vivem na aldeia. Ele confirma que as famílias enfrentam dificuldades relacionadas à infraestrutura e alimentação, mas ressalta que o grupo não aceita deixar o local por já haver um projeto para construção de casas e de um sistema de piscicultura. “Essa é uma terra sagrada. Tem um cemitério antigo aqui”. 

Além disso, eles têm medo de deixar a aldeia e a promessa de alojá-lo em outra área não se cumprir. “Os xavantes já saíram daqui uma vez e a terra que tinha sido prometida não estava lá. Tiveram que ficar mudando de lugar. Sofremos muito”, alega, em referência a proposta que o Estado chegou a fazer à União, de direcionar os índios para uma região de mata preservada e permitir a manutenção dos produtores na gleba. 

Cerca de 165 mil hectares são disputados pela aldeia a que Paradzané faz parte e posseiros desde 1993, quando a reserva indígena foi delimitada. Em maio deste ano, a liminar que suspendia a determinação de retirada dos não-índios da região foi cassada, o que deu origem ao conflito, intensificado no último final de semana. 

Em forma de protesto, os posseiros interromperam o tráfego nas principais vias do Vale do Araguaia. Abriram uma vala de 1,5 metro na BR-158 e queimaram pontes na BR-080 e MT-433. A cidade mais afetada até agora é Alto Boa Vista, que já decretou estado de emergência. Eles exigem uma audiência com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. 

Além da PF, a Polícia Rodoviária Federal e a Polícia Militar fazem o patrulhamento do local em que há maior concentração de manifestantes. A estimativa é que, na noite desta terça-feira (26), pelo menos 1,5 mil pessoas participaram dos protestos, até o momento pacíficos. 

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