quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Morre, aos 104 anos, Oscar Niemeyer


O arquiteto morreu na noite desta quarta-feira no Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro
 Vanderlei Almeida / AFP
Arquiteto estava internado desde o último dia 2 de novembro no Rio / Vanderlei Almeida/AFP
 Niemeyer fazia um tratamento com hemodiálise, iniciado há duas semanas, depois de uma piora na função renal, e com a fisioterapia respiratória. Ele chegou ao hospital no último dia 2 de novembro.
Oscar Niemeyer será velado na manhã desta quinta-feira no Palácio do Planalto, em Brasília. Depois o corpo do arquiteto volta para o Rio de Janeiro. 

Aos 104 anos, Niemeyer seguia em busca de curvas livres e sensuais

Niemeyer fazia um tratamento com hemodiálise, iniciado há duas semanas, depois de uma piora na função renal, e com a fisioterapia respiratória. Ele chegou ao hospital no último dia 2 de novembro.

Oscar Niemeyer será velado na manhã desta quinta-feira no Palácio do Planalto, em Brasília. Depois o corpo do arquiteto volta para o Rio de Janeiro. >>>

Com sua atração por “curvas livres e sensuais”, o comunista inveterado Oscar Niemeyer se tornou um dos arquitetos mais influentes da arquitetura moderna internacional. Até a morte, aos 104 anos, o carioca Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho se manteve fiel aos ideais do comunismo e continuou desenhando, fazendo projetos - sempre ricos em curvas, como as que encontrava “nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida.”

Considerado um pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado, fez com o material curvas até então consideradas impossíveis. Niemeyer recebeu diversos prêmios por seu trabalho e trajetória política, sendo sua obra mais conhecida a cidade de Brasília, projetada em parceria com Lúcio Costa (1902-1998). Na capital, o arquiteto desenhou o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional, a Igrejinha de Brasília e a Catedral Metropolitana Nossa Senhora de Aparecida.

Pelo país, destacam-se, em São Paulo, o Copan, o Parque do Ibirapuera - com o Auditório e a Oca -, a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte (MG), e os museus de Arte Contemporânea de Niterói e o Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR). Fora do Brasil, os projetos mais conhecidos do arquiteto são a sede das Nações Unidas, em Nova York e a sede do Partido Comunista da França, além de projetos na Argélia, Portugal e Itália.

Trajetória profissional
“Arquitetura é a arte de construir. Fazer abrigos para o homem, dar conforto e ambiente adequado às suas atividades; eis a sua função específica. Se atinge nível superior, se é bela e criadora, a arquitetura passa a constituir obra de arte”, definiu Niemeyer em 1934, recém formado no curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes.

O arquiteto passa a trabalhar no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão. Em 1936, integra a comissão criada para projetar a sede do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, supervisionada pelo arquiteto suíço Le Corbusier (1887-1965). Seu primeiro projeto individual é a Obra do Berço, em 1937, no Rio de Janeiro.

Entre 1940 e 1944, Niemeyer projeta, por encomenda do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek (1902 - 1976), o conjunto arquitetônico da Pampulha, tido como um marco de sua obra. O projeto rompe com os conceitos do funcionalismo e parte em busca das superfícies curvas, explorando as possibilidades plásticas do concreto armado.

Em 1947, as Nações Unidas o convidam para participar da comissão de arquitetos encarregada de definir os planos de sua futura sede. Seu projeto, em parceria com Le Corbusier, é escolhido como base do projeto final.

Em 1955, a convite do presidente Kubitschek, Niemeyer assume a chefia da empresa criada para promover a construção de Brasília. Em 1957, faz um concurso para o plano piloto da nova capital. Vence o projeto de Lúcio Costa. Niemeyer fica responsável pelos edifícios e Lúcio Costa desenvolve o plano da cidade.

Em 1966, em meio à Ditadura Militar, Niemeyer se muda para Paris, onde abre um escritório e continua desenhando projetos para vários países, entre eles a Argélia, então uma ditadura comunista. O arquiteto retorna ao Brasil em 1980 e cria obras como o Sambódromo do Rio de Janeiro e o Memorial da América Latina (SP).

Em 2007, Niemeyer completa cem anos e recebe diversas homenagens, entre elas o título de Comendador da Ordem Nacional da Legião de Honra, a mais alta condecoração do governo francês, pelo conjunto de sua obra. O Pritzker, considerado o Nobel da arquitetura, Niemeyer já havia recebido em 1988.

A mais recente das suas conquistas aconteceu no início deste ano. Aos 104 anos, ele recebeu, pessoalmente, o prêmio especial do Estandarte de Ouro 2012. O arquiteto foi homenageado pela execução do traçado original do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, concluído pela prefeitura carioca.

Trajetória política e vida pessoal
Aos 18 anos, boêmio e sem profissão definida, casa-se com Annita Baldo, filha de imigrantes italianos. O casamento dura 76 anos, até a morte de Annita, em 2004. O casal tem apenas uma filha, Anna Maria, que, desde cedo, passa a colaborar nos projetos do pai. Anna Maria morreu em 6 de junho deste ano, aos 82 anos, vítima de um enfisema pulmonar.

Em 1945, aos 38 anos, filia-se ao Partido Comunista brasileiro. Quarenta e cinco anos depois, em 1990, deixa a legenda, mas não por isso deixa de declarar-se comunista e expressar admiração por líderes como o ditador soviético Josef Stalin (1878-1953).

Enquanto os militares dão o golpe no Brasil, o arquiteto viaja por Israel. Ao retornar, é intimado pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social) por sua relação com o comunismo. “Durante a Ditadura, foi tudo diferente. Meu escritório foi saqueado e o da revista Módulo, que eu dirigia, semidestruído. Meus projetos pouco a pouco começaram a ser recusados”.

Ao partir para o exílio voluntário na França, Niemeyer contou com o apoio e a ajuda do então presidente Charles de Gaulle, ele próprio um militar.

Aos 98 anos, em 2006, o arquiteto casa-se escondido com Vera Lúcia Cabreira, 60, sua secretária. Parte da família - que só soube da união no dia seguinte – se opôs ao casamento.

O arquiteto deixa quatro netos, 13 bisnetos e quatro trinetos.

“A data não é importante. A idade não é importante. O tempo não é importante. O que nós criamos não é importante. Somos muito insignificantes. O que é importante é ser tranquilo e otimista”, disse ao jornal britânico “The Times”, na véspera de seu centenário.

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