domingo, 16 de dezembro de 2012

Prestes a perder 72% de área, município vai à falência com desintrusão de Suiá Missú


Da Reportagem local - Lucas Bólico e Renê Dióz - enviados especiais a Estrela do Araguaia (Posto da Mata)
O peemedebista Leuzipe Domingues Gonçalves está com uma bomba no colo. De estatura mediana, magrinho e isolado no chamado “Vale dos Esquecidos”, o prefeito eleito do município de Alto Boa Vista assiste ao esvaziamento da população e dos cofres que está prestes a administrar.

Em curso, a operação de despejo em massa da gleba de Suiá Missú (declarada terra xavante em 1998) tem tudo a ver com o destino de Alto Boa Vista. Da área do município,72% está dentro dos 165 mil hectares da área denominada “Maraiwatsede” pelos indígenas. Da população de 5.447 pessoas, mais de três mil vivem naquele pedaço de chão.

Desses, 568 votam. Executar o despejo de Suiá Missú representa, portanto, a ruína econômica e política de um município já combalido. Administrar isso é uma “bucha”.


José Medeiros / Olhar Direto


“Nosso governador Silval Barbosa (PMDB), nosso amigo [deputado estdual] José Riva (PSD) e o [deputado federal] Carlos Bezerra (PMMDB) já disseram ‘você vai ser o prefeito que mais vai ter dificuldade. Dos 141 é considerado o pior de todos. Já vínhamos sofrendo com as administrações anteriores e agora, com essa desintrusão, realmente vai ficar inviável a nossa administração. Hoje, a situação é desesperadora”, lamenta Leuzipe, que nunca antes havia se candidatado nem para presidente de bairro e sagrou-se vencedor no pleito com 61% dos votos.

Com a maior parte de sua população em claro risco social – prestes a perder suas casas, seus empregos no distrito e nas fazendas - o novo prefeito deve assumir o posto em janeiro já com os bolsos furados e uma gestão engessada, mesmo com o apoio já assegurado na Câmara. “Realmente, o município já está em situação de calamidade. É um pepino danado. Se a gente soubesse que [o município] estava desse jeito, não compensava ter entrado”, amargura-se.

Bancarrota

“É inadministrável. A área que nós tínhamos, onde produz mais com pecuária, estamos perdendo. Nós estamos ficando com a área mais fraca. Nós estamos ficando com 28% do território municipal”, observa, lembrando que as lavouras de arroz também devem ser declaradas perdidas em breve.


José Medeiros / Olhar Direto


Como primeira medida, Leuzipe, que é bacharel em Ciências Contábeis, anuncia uma auditoria no município, seja pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) ou por uma empresa particular, para saber o que há e o que não há de recursos para fazer o município voltar a funcionar. O intuito é ir garantindo um atendimento mínimo a quem procurar a sede do município até que, dentro de dois ou três anos, seja possível começar a retomar a vida normal e tentar prover um pouco de qualidade de vida aos habitantes.

É que não há administração possível em meio a uma economia estagnada, daí a grande dificuldade de se fazer gestão em vez de uma tentativa de reconstrução da cidade – que sofre por falta d’água, de posto de saúde, de ambulância, que só conta com uma médica atendendo a toda a população, que arrecada apenas cerca de R$ 1 milhão por mês e tem uma dívida confessada superior a R$ 4 milhões. Só de ICMS, Alta Boa Vista vai perder R$ 400 mil mensalmente.

“Ninguém acredita mais. Tá todo mundo desesperado, não tem pra onde ir. Eu, na qualidade de prefeito eleito, já sinto essa dificuldade. De dez que me ligam hoje, nove querem emprego, mas eu não posso transformar a Prefeitura num cabide, senão não fazemos nada!”, queixa-se.

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