sábado, 8 de dezembro de 2012

Prestes a serem despejados, moradores de Suiá Missú decretam luto simbólico


Do Posto da Mata - Renê Dióz - enviado especial    Postagem: Sargento Conceição
Foto: José Medeiros / Fotos da Terra
Além de faixas negras, muitos empunhavam bandeiras do Brasil, ainda depositando fé tanto na religião quanto no país cujo Estado – a ser próprio ver – acaba de lhes ultrajar com um decreto judicial de desintrusão
Além de faixas negras, muitos empunhavam bandeiras do Brasil, ainda depositando fé tanto na religião quanto no país cujo Estado – a ser próprio ver – acaba de lhes ultrajar com um decreto judicial de desintrusão
Em vigília permanente desde que se viram na iminência de um despejo, os moradores da gleba de Suiá Missú decretaram luto simbólico na tarde desta sexta-feira (7) em mais uma manifestação com objetivo de chamar atenção do mundo exterior – por meio dos poucos representantes da imprensa presentes – ao desespero das famílias prestes a ficar sem chão.

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Findo o prazo para se retirarem das terras por conta própria, aproximadamente 50 moradores ajoelharam-se em círculo de oração na frente do bloqueio da rodovia BR-158 após amarrarem faixas negras em automóveis e edifícios do distrito de Estrela do Araguaia (Posto da Mata).

Por alguns minutos, os manifestantes se ajoelharam ao som de canções evangélicas e, de mãos dadas, entraram em momento de prece por uma reviravolta capaz de lhes garantir a permanência nas terras demarcadas na década de 90 como reserva indígena xavante.

Além de faixas negras, muitos empunhavam bandeiras do Brasil, ainda depositando fé tanto na religião quanto no país cujo Estado – a ser próprio ver – acaba de lhes ultrajar com um decreto judicial de desintrusão.

“Se eu tiver de sair daqui, eu vou ser viúva da Suiá Missú porque meu marido só sai morto. Porque a gente não tem para onde ir. Se sair daqui, nós não temos teto”, anunciou em tom cavernoso Maria Joaci Couto Ferreira, 54 anos de idade, coberta de negro sob o sol escaldante. Dona de 32 alqueires onde planta arroz, milho e mandioca há 22 anos, ela veio do Tocantins e conta que seu marido, de 66 anos, prefere morrer a ir viver sob uma lona, “debaixo de plástico”.

“É uma injustiça a própria Justiça tirar a gente daqui. Para levar para onde?”, protestou Joacir Gomes de Campos, 42 anos, há cerca de 20 na região. “Infelizmente, nosso país não tem Justiça”, lamentou, com uma bandeira brasileira nas mãos, sentado em vigília na entrada do distrito.

Ainda na entrada do posto, os moradores se revezaram durante a tarde ao microfone - proferindo palavras de conforto, palavras de ordem, preces e sermões aplaudidos pela maioria evangélica da população local, revezando-se na vigília, conversando com os amigos, tomando refrigerante e, por não saber o que fazer, esperando a chegada das forças policiais para o seu despejo. 

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