sábado, 22 de dezembro de 2012

SUIÁ-MISSÚ: Posseiros optam pela saída voluntária


Moradores enfrentam a dificuldade de conseguir alugar uma casa e de retirar o investimento feito nas propriedades
JOSÉ MEDEIROS / DC
Nos primeiros dias da desintrusão, houve manifestações e até mesmo o confronto com a Força Nacional
Depois das manifestações, bloqueios de rodovias e até confronto com a Força Nacional de Segurança, os posseiros da Terra Indígena Marãiwatsédé optaram pela desocupação voluntária dos imóveis. A Fundação Nacional do Índio (Funai) informa poucos focos de resistência, fato confirmado pela população local.

Os principais destinos são Confresa e Alto Boa Vista, onde os alugueis já começam a subir graças à maior procura. Com relação aos animais e demais benfeitorias realizadas nas chácaras e fazendas, muitos ainda não sabem o que fazer. Eles não conseguiram desmontar secadores de arroz, galpões e pensam em pedir mais prazo à Justiça. Já o gado, corre o risco de ser confiscado, tendo em vista que não há condições de se realizar o transporte e nem pasto para abrigá-los fora da reserva.

As áreas de pastos fora dos limites da reserva sofrem com a “superlotação”. Quem tem espaço para 100 cabeças abriga 400. Solidariedade com os vizinhos despejados, que não têm para onde levar seus animais, ou investimento incentivado pela baixa do preço. A defasagem na região é de pelo menos 40%, conforme pecuaristas.>>>

Primeiro a receber a ordem de despejo, o fazendeiro Antônio Manede Jordão, conhecido como “Alemão”, tem até o dia de Natal para abandonar quase mil hectares de terras.

Há 14 anos dentro da gleba Suiá Missú, ele afirma que não vai mais investir na atividade agropecuária. “Vou viver viajando por aí. Quem sabe, um dia, nos encontramos e você vai dizer: ‘o senhor cumpriu a promessa’”, disse à reportagem do Diário.

Sua propriedade foi alvo do pior conflito da desintrusão. Pelo menos 10 pessoas ficaram feridas quando os moradores resolveram enfrentar a Força Nacional de Segurança. Armados com paus e pedras, eles foram recebidos com tiros de bala de borracha e bombas de efeitos moral.

O confronto, segundo Alemão, teve início porque as equipes da força-tarefa planejavam montar um “quartel general” dentro da fazenda, ideia que acabou abortada.

Diante da ameaça de ver sua propriedade ocupada por estranhos, ele decidiu demolir tudo o que construiu dentro da fazenda. Seis casas e diversos galpões. Apenas a represa deve escapar devido ao aviso do oficial de Justiça: não é permitido causar qualquer dano à natureza.

Alemão estima um prejuízo de R$ 30 milhões. Valor investido na compra de terras que o cercavam. “Tudo com escritura”, garante.

Seus vizinhos podem perder ainda mais. Segundo ele, muitos plantaram soja que não terá tempo para ser colhida. “Eu fui a uma das várias reuniões em Brasília e vi que não teria volta. Resolvi não plantar meu arroz. Alguns audaciosos acharam que teriam tempo”, conta.

Apesar da migração, quem mora em Alto Boa Vista também deve sair perdendo. O prefeito Wanderlei Perin (PR) prevê a redução da população, já que muitos eram empregados nas propriedades que deixarão de existir.

“Sem dúvida vamos perder em arrecadação. Com o tempo as pessoas vão começar a procurar emprego nas cidades vizinhas, porque não teremos como absorver todos no mercado de trabalho daqui”, avalia.

A desocupação continua. A Funai não tem previsão de quando todo o território voltará às mãos dos 900 xavantes que vivem em Marãiwatsédé, que fica perto de Alto Boa Vista (a 1.064 quilômetros de Cuiabá) e tem 165 mil hectares.

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