quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

DOSSIÊ SUIÁ-MISSÚ

Terra nas mãos de poucos

Relatório do MPF mostra que 1/3 da área está concentrado nas mãos de 22 grandes posseiros, entre eles um desembargador


Funai notificou invasores que têm que sair hoje do local
RODRIGO VARGAS
Da Reportagem

Quase um terço das áreas da Terra Indígena Marãiwatsédé (localizada em Alto Boa Vista, 1.065 quilômetros de Cuiabá) está nas mãos de 22 grandes posseiros.

Entre eles estão prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, empresários e um desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso. Ao todo, o grupo reúne mais de 32 fazendas que somam 44,6 mil hectares.

A informação consta de um levantamento produzido pelo Ministério Público Federal a partir de dados do Incra, Ibama e Funai, ao qual o DIÁRIO teve acesso.

Na lista de grandes posseiros constam os nomes do desembargador Manoel Ornellas, do atual prefeito de São Félix do Araguaia, Filemon Limoeiro, e do empresário Mohamad Zaher, vereador em Rondonópolis.

Também são citados o ex-prefeito de Alto Boa Vista, Aldecides Cirqueira, e seu irmão, Antônio Cirqueira. Juntos, os irmãos controlam sete propriedades na área xavante.

A maior fazenda identificada na área pertence ao produtor rural Antônio Mamed Jordão, ex-vice-prefeito de Alto Boa Vista. A fazenda Jordão, segundo a Procuradoria, tem 6.193 hectares.

O desembargador Ornellas é citado na lista como o proprietário de duas áreas (ambas identificadas como Fazenda São Francisco de Assis) que somam 886 hectares.

O grileiro Gilberto Luiz de Rezende, o Gilbertão, é citado como proprietário de 2.636 hectares na área. Alvo da Operação Pluma em 2009, ele foi denunciado sob acusação de chefiar um milionário esquema de grilagem e desmatamento ilegal em Marãiwatsédé.

Seu irmão, o ex-vereador por Alto Taquari, Admilson Luiz de Rezende, é apontado no relatório da Procuradoria como o ocupante de três áreas que somam 6.640 hectares. Ele também foi denunciado sob acusação de envolvimento no suposto esquema.

DESOCUPAÇÃO - Ontem terminou o prazo concedido pela Justiça para a desocupação da área de 165 mil hectares, homologada para os índios xavantes em 1998. Segundo a Funai, a notificação dos ocupantes não-índios foi concluída em 17 de novembro.

“Foram notificadas um total de: 455 pessoas, em 242 empreendimentos (casas, comércios e fazendas). Mais da metade destas notificações (253) foi feita no distrito de Posto da Mata”, apontou o órgão, em nota.

Os representantes do movimento contrário à desocupação afirmam que mais de sete mil pessoas serão desalojadas pela decisão judicial. O número é contestado pela Funai.

“Cerca de 80% dos empreendimentos já foram notificados, levando a considerar que o número real de ocupantes não indígenas é bem inferior ao número amplamente divulgado na região.”

O DIÁRIO não conseguiu contato com os políticos e produtores citados na lista do Ministério Público Federal. A reportagem deixou recados no gabinete do desembargador Manoel Ornellas, mas, até a conclusão desta reportagem, ele não ligou de volta. 

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