domingo, 17 de fevereiro de 2013

Filho localiza mãe

Mulher era espancada pelo marido diariamente e fugiu, deixando os filhos que a encontraram pela rede social


Rivaldo Caetano da Silva afirma que não guarda mágoa e entende a atitude da mãe

HELSON FRANÇA
Da Reportagem

Todos os domingos na igreja, entre uma oração e outra, Rivaldo Caetano da Silva pensava: “Um dia ainda vou estar com ela aqui”. 

Desde que tinha sete anos ele ansiava reencontrar a mãe, que saiu de casa para fugir das sessões de espancamento cometidas pelo marido, deixando para trás o pequeno Rivaldo e mais 3 filhos. 

Contando com a ajuda dos “deuses virtuais”, o marceneiro de 39 anos, natural de Nova Xavantina, localizou a mãe pela rede social Facebook e, no último dia 10, a encontrou pessoalmente, colocando um ponto final na busca que já durava quase 33 anos. “Agora ela vai vir para Cuiabá e o sonho, enfim, irá se realizar”. 

Residindo com a mulher com quem é casado há 11 anos e os dois filhos - Isabele Cristina, de 9 anos, e Bruno Rafael de Souza Silva, de 5 anos - Rivaldo conta que, nessas três décadas, a fé em reencontrar Dalvina Silvério da Silva, 62 anos, sua mãe, se manteve inabalada. 

Desde que ficou sabendo que o Facebook era uma boa alternativa para procurar pessoas, Rivaldo aprofundou as suas buscas. Ele, que já havia tentado localizar – sem sucesso – a mãe das mais diversas formas, ao perceber a praticidade da rede social, disparou a mandar convites para várias pessoas desconhecidas, chegando a ter a ferramenta de enviar solicitações de amizade bloqueada por 30 dias (quando acontece quando muitos convites são feitos de forma aleatória). 

Um dia, porém, foi surpreendido com um pedido de amizade. Luceni Alzira Sobrinho, até então uma desconhecida, o adicionou. Casada com o irmão de Dalvina, ela escreveu para Rivaldo, dizendo que ele poderia ser um dos filhos de Dalvina, que tanto procuravam. 

As conversas foram mantidas e, tal como montar um quebra-cabeça, as peças foram se encaixando. Poucos dias depois, Rivaldo recebeu um telefonema da mãe, e, após uma semana, foi ao encontro dela. 

Acompanhado da esposa Izabel de Souza, 38 anos, o marceneiro pegou um ônibus com destino a São Simão, em Goiás. 

Era de madrugada quando eles desceram do ônibus. Dona Dalvina estava lá, esperando. O reconhecimento foi mútuo. 

“Até que enfim te encontrei, meu filho”, ouviu Rivaldo, deixando as lágrimas escorrerem pelo rosto. 

Dalvina mora em uma fazenda situada em Itaguaçu, Distrito de São Simão. 

SEM MÁGOAS - A partida da mãe quando Rivaldo e os irmãos eram ainda crianças deixou algumas cicatrizes entre a família. 

“Alguns são meio revoltados, mas não vale a pena guardar mágoas”, disse. 

Ele diz entender a mãe. O marceneiro conta que se recorda das agressões, quase diárias, sofridas por ela pelo pai. “Ele era uma pessoa violenta. E ainda bebia. O pai era daqueles que batia na gente e nos colocava para trabalhar”, relata. 

Dalvina foi embora depois de ser ameaçada de morte. “Ela nos deixou com a vizinha e nunca mais voltou”. 

Rivaldo conta que a mãe tinha medo de represálias e que, por isso, evitou contato com ele e os irmãos. 

“Levei comigo a certidão de óbito do meu pai quando fui vê-la, para ela se certificar de que ele estava mesmo morto”, disse. 

O marceneiro conta que, aproximadamente um ano depois da partida da mãe, o pai foi atropelado e morreu. Ele e os irmãos se separaram, sendo entregues para terceiros. 

Rivaldo foi acolhido pelo Juizado da Infância e encaminhado para o colégio católico Nazaré, em Poconé. Lá, sob os cuidados do padre Joaquim Taba, aprendeu o ofício de marceneiro. 

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