sábado, 12 de março de 2011

A epopeia líbia de um cirurgião brasileiro

Escrito por Le Monde Jean Pierre Langellier   
Sáb, 12 de Março de 2011 11:30

O líder da Líbia, Muammar Gaddafi
Lyacir Ribeiro, 70, é um dos raros ocidentais a terem mantido um contato “íntimo” com Muammar Gaddafi em seu bunker em Trípoli. E com razão: esse mestre brasileiro da cirurgia estética rejuvenesceu o rosto do ditador líbio em uma epopeia que ele conta à revista semanal “Época”.
Ribeiro participava de um congresso médico em Trípoli, em 1994, quando foi abordado pelo ministro líbio da Saúde, Mohamed Zaid, que queria apresentá-lo a “uma pessoa muito querida”. Sua esposa? Sua amante? Mistério. O próprio ministro levou o cirurgião, de carro, até um prédio com forte sistema de segurança, antes de lhe confessar: “você irá examinar nosso líder”.
Quando lhe apresentaram Gaddafi, este lhe disse logo de início: “Estou no poder há muito tempo. Não quero que os jovens vejam em mim um velho.” Ribeiro sugeriu um lifting facial. Gaddafi, que entende do assunto, recusou e propôs uma intervenção mais “natural”, antes de decidir: “Ok, vamos fazer isso hoje.” Ribeiro explicou que era tecnicamente impossível, e impôs um adiamento...
Foi marcado um horário para o ano seguinte. De volta a Trípoli em 1995, acompanhado de um especialista em implantes capilares, o cirurgião descobriu as instalações médicas e esportivas ultramodernas do bunker: um consultório de odontologia mantido por uma dentista búlgara, uma sala de musculação, uma imensa piscina.
Vestígio de uma facada
Gaddafi não queria dormir. Ribeiro se contentou em administrar a seu paciente uma anestesia local e sedativos. Ele tirou as bolsas sob seus olhos, melhorou o aspecto das pálpebras, atenuou as rugas, disfarçou uma cicatriz no lado direito da testa. Que seria vestígio de uma facada, supôs o cirurgião. Em plena operação, por volta das 2 horas da manhã, Gaddafi exigiu que parassem tudo: ele estava “faminto” e queria “comer um hambúrguer”. Os instrumentos foram deixados de lado e sanduíches foram servidos a toda a equipe. Terminada a intervenção, Gaddafi parecia estar satisfeito com o resultado, mas pediu para que Ribeiro ficasse um pouco em Trípoli para garantir o acompanhamento médico.
Dez dias mais tarde, ele o liberou: “Ficar neste lugar, sem beber, sem mulher, deve ser um sacrifício para você. Pode ir embora”. Ribeiro não ousou apresentar um orçamento a Gaddafi. No momento de deixar o país, o ministro da Saúde lhe deu um envelope recheado de cédulas: dólares e francos. Cinco anos atrás, recebendo uma nova solicitação, Ribeiro encontrou uma desculpa para declinar o convite.
O cirurgião não sente orgulho de sua aventura líbia. Certamente por causa da personalidade de seu paciente, sobre o qual ele afirma não ter sido suficientemente informado na época. Mas também por um ponto de vista estritamente profissional: “Quando vejo as fotos de seu rosto hoje, penso que elas não atrairão muitas pessoas para minha clínica”.

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